Qual a diferença entre dispositivo intrauterino (DIU) e sistema intrauterino (SIU)?
O DIU é um contracetivo que tem uma duração até 10 anos.
Relativamente ao SIU, existem 2 tipos de SIU: um com a duração de 3 anos e outro com duração de 5 anos (embora alguns estudos apontam já para uma eficácia a 7 anos).
Diferem no mecanismo de ação: o cobre do DIU cria um ambiente inflamatório na cavidade uterina, o que altera a motilidade e função dos espermatozoides. O SIU cria um espessamento no muco cervical que não permite a penetração dos espermatozoides, para além de promover a decidualização/atrofia endometrial. Ambos são seguros para a saúde da mulher e não apresentam consequências para a fertilidade futura. Ao impedirem a função dos espermatozoides e consequentemente a fertilização do óvulo, têm um mecanismo de ação que não é abortivo.
Como abordar a dor associada à inserção do DIU/SIU?
A colocação do DIU/SIU pode causar algum desconforto, semelhante à dor menstrual, mas não se trata, no entanto, de dor de intensidade que justifique a prescrição de analgesia de forma sistemática antes da colocação. Pode, no entanto, ser necessário, nalguns casos em que se preveja maior dificuldade na colocação (por exemplo cesariana anterior) ou que a colocação provocou um maior desconforto, a prescrição de um analgésico profilático ou terapêutico, respetivamente.
O DIU/SIU deve ser colocado durante a menstruação?
Não é necessário. A menstruação pode ser vantajosa para a inserção uma vez que facilita a transposição do orifício interno do colo. Por outro lado, numa mulher com ciclos regulares, a presença de menstruação indica em princípio a ausência de gravidez.
Se a mulher estiver a fazer um outro método de contraceção pode colocar o DIU/SIU no dia que a mulher vem à consulta. Por exemplo, se estiver a tomar um contracetivo oral (CO) /anel / transdérmico pode colocar o DIU/SIU, e informar para suspender o método em uso (após 7 dias se optar por um SIU).
Se não estiver sob nenhum método contracetivo previamente pode colocar o DIU/SIU (e usar um método de contraceção barreira durante 7 dias, no caso da opção ser um SIU).
Se estiver a usar implante subcutâneo pode colocar o DIU/SIU no dia que retira o implante (e usar um método de contraceção barreira durante 7 dias, no caso da opção ser um SIU).
O DIU/SIU interfere com a fertilidade futura da mulher?
Não.
Tanto o DIU como o SIU são métodos seguros e reversíveis o que significa que a mulher após retirar o DIU/SIU retoma de imediato a fertilidade. Se a mulher está a pensar numa gravidez deve realizar-se uma consulta de preconceção, com os exames e suplementação preconizada. O DIU/SIU deve ser removido após pelo menos 3 meses de terapêutica preconcecional.
Há mulheres que engravidam com o DIU/SIU?
Menos de 0,5 em cada 100 mulheres engravida com DIU/SIU ao fim de um ano de utilização, portanto é uma situação rara e o risco individual é muito reduzido. O DIU/SIU são dos métodos de contraceção reversíveis mais eficazes, porque não dependem da adesão da utilizadora, contudo não existem métodos de contraceção 100% eficazes.
Se engravidar com um DIU/SIU há riscos para a gestação?
Não.
Se engravidar com DIU/SIU e se os fios do contracetivo estiverem visíveis, o contracetivo deve ser removido. Se os fios não estiverem visíveis, não se deve proceder a nenhuma intervenção, devendo tranquilizar a grávida informando da não existência de risco malformativo fetal.
As mulheres nulíparas podem usar DIU/SIU?
Sim.
A nuliparidade não contraindica a utilização de contraceção intrauterina Atualmente pode-se optar por usar o SIU de menores dimensões, que tem a duração de 3 anos, pois a colocação associa-se a menor incómodo sendo o nível de dor bem tolerado e pouco intenso, bem como a taxa de expulsão. A literatura evidencia que o risco de expulsão do SIU (LNG 13,5mg) nas mulheres nulíparas é sobreponível ao das mulheres multíparas.
Em portadoras de DIU/SIU, deve ser evitada a colocação de tampão?
Não.
A prática clínica não é reveladora de qualquer problema na utilização do tampão (incluindo maior expulsão do contracetivo) e não se associam outros riscos para a saúde da mulher. A mulher deve ser aconselhada a mudar o tampão frequentemente e não usar se tiver pouco fluxo, para não colar aos fios e correr o risco de mobilização com a extração.
O DIU/SIU está associado a aumento do risco de infeções e aumenta o risco de infertilidade?
Não.
O DIU/SIU não deve ser colocado quando se verifica a presença de uma infeção genital, que pode ser excluída apenas com uma observação ginecológica. A maioria das infeções pélvicas são de transmissão sexual e estão relacionadas com um comportamento sexual de risco, múltiplos parceiros e com a não utilização de preservativo. Deve informar a mulher que a única maneira de se proteger de uma doença inflamatória pélvica é utilizar o preservativo e evitar múltiplos parceiros sexuais.
A infertilidade pode ser uma complicação da infeção do trato genital superior, não se verificando relação direta com a utilização de DIU/SIU.
Como deve ser vigiado o SIU/DIU?
Recomenda-se um controlo clínico dentro de 4 meses, após a colocação. A observação dos fios, verificando-se as dimensões ajustadas em relação à colocação, assegura indiretamente um posicionamento adequado. Por outro lado a constatação de uma redução do fluxo menstrual também indicia que está a ocorrer o mecanismo de ação do levonorgestrel do SIU na decidualização/atrofia endometrial.
Os fios do DIU/SIU podem não estar visíveis, estando enrolados no canal cervical ou na cavidade endometrial.
A realização de ecografia apenas se justifica em situações clínicas pontuais e de acordo com a avaliação clínica.
O que fazer se verificar que o SIU/DIU foi expulso?
Quando esta situação é descrita pela mulher deve ser realizada uma avaliação clínica, de modo a excluir a presença de algum tipo de patologia e de diagnóstico de gravidez. De acordo com estes dados poderá ser ponderada outra opção contracetiva ou nova colocação de DIU/SIU, de acordo com a opção da mulher.
A probabilidade de ser expulso é maior com o DIU de cobre e durante a 1ª menstruação.
O SIU, mesmo que se desloque, desde que se mantenha dentro da cavidade uterina mantém a eficácia contracetiva.
Como proceder em caso de perfuração e consequente migração do SIU/DIU?
Esta situação pode ocorrer durante a inserção ou algum tempo após. Habitualmente deve ser realizada uma ecografia ginecológica para confirmar a ausência de SIU/DIU na cavidade endometrial. A localização do DIU/SIU é possível com recurso à radiografia abdomino-pélvica. Estes casos devem ser orientados para um Serviço de Ginecologia do Hospital da área de referência.
Esta complicação é extremamente rara.
A eficácia contracetiva pode estar comprometida e pode ser necessário excluir gravidez pelo que deve informar as mulheres a adotar outras medidas contracetivas. O mais frequente é proceder a uma cirurgia laparoscópica para remoção do DIU/SIU.
E se surgirem queixas relacionadas com interferência na atividade sexual?
Em raros casos pode surgir a perceção dos fios do DIU/SIU pelo companheiro. Nesta situação deve proceder-se ao corte da secção dos fios mais próxima do orifício externo do colo. As restantes queixas do foro sexual devem ser enquadradas numa avaliação de distúrbios da função sexual.
A realização de exames imagiológicos como TAC e RMN poder ser prejudicada? Existe risco de deslocação do DIU/SIU nestas situações?
O SIU não tem qualquer interferência com este tipo de exames. Em algumas situações raras foi descrita deslocação do DIU de cobre durante a RMN, mas esta questão não deve limitar a utilização deste método. Eventualmente pode ser realizado exame ginecológico para avaliar as dimensões dos fios após o exame. O DIU/SIU podem interferir apenas com a avaliação da cavidade endometrial e não com o estudo de outras estruturas.
O que fazer para remover o DIU/SIU nas situações em que os fios não são visíveis?
Pode-se tentar a remoção com pinça específica para remoção de DIU de preferência com controlo ecográfico. Se mesmo assim não se conseguir, deve-se proceder à remoção por histeroscopia.
O DIU/SIU é muito caro?
Em Portugal muitos dos métodos de contraceção são gratuitos. O que significa que desde que a mulher esteja inscrita no Centro de Saúde da sua área de residência tem acesso gratuitamente a contraceção hormonal oral (algumas pilulas estão disponíveis) e vaginal (anel), implante, injeção, e claro, o DIU e SIU.
No caso do SIU, este também é comparticipado a 69% ao nível das farmácias, mediante receita médica, e os seus preços actualizados podem ser consultados no site do Infarmed, “Infomed”. À data de Maio de 2017, o SIU com duração de 3 anos apresenta, ao nível da farmácia, um preço com comparticipação de 35,42 euros, e o SIU com duração de 5 anos apresenta um preço com comparticipação de 38,92 euros.